Para venda palácio, mar Siderno RC

Estava de férias na Calábria há alguns dias, sem um programa demasiado rígido. Tinha escolhido uma zona calma da costa jónica para abrandar, ler, respirar. Uma tarde, enquanto o sol descia lentamente por detrás das colinas, dei por mim a caminhar no centro de uma pequena aldeia perto da praia. Nem sequer me lembro do nome. Mas lembro-me bem daquela loja de antiguidades.
A montra era um caos fascinante de objectos esquecidos, e no centro, numa pequena caixa de veludo azul desbotado, estava ela: um colar de coral, de um vermelho quente e vivo, como certos amanheceres sobre o mar. Entrei quase sem dar por isso.
O proprietário, um velhote simpático, disse-me que o colar pertencia a uma jovem que viveu em Siderno, há muitos anos. Não me podia dizer muito mais, mas algo no objeto já me tinha cativado. Comprei-o.
Mais tarde, no hotel, ao abrir a caixa, encontrei uma carta escondida debaixo do veludo. Era frágil e amarelada, escrita numa caligrafia elegante. Um homem declarava o seu amor a uma rapariga que vivia numa villa em Siderno, descrevendo um lugar mágico: um pomar de citrinos perfumado, uma pequena varanda com vista para o silêncio e uma voz que cantava, pensando que não seria ouvida.
Aquelas palavras tocaram-me tanto que decidi, por impulso, ir a Siderno. A cidade não era muito longe, pelo contrário: a sua localização impressionou-me imediatamente. Estava muito perto do mar, mas bastava deslocarmo-nos algumas ruas para nos encontrarmos imersos numa paisagem verde e montanhosa. Equilíbrio perfeito entre litoral e sossego.
Percorrendo as ruas do centro histórico, reparei numa avenida ladeada de palmeiras. Parei. No fim da avenida, um velho portão de ferro abre a vista para uma moradia de três andares. Cada uma diferente: uma simples e severa, a outra ornamentada, e a última... elegante, com uma pequena varanda florida.
“Cada uma diferente como vós, irmãs, sois, e a última ostentando a vossa graça e olhando sozinha como eu para ouvir a vossa voz melodiosa.“
Estas palavras estavam na carta. Não tive dúvidas: era aquela a casa.
Um homem estava a podar o jardim. Um jardineiro. Aproximei-me, ele viu-me curioso e convidou-me a entrar. Enquanto caminhávamos entre as árvores de citrinos abandonadas e os caminhos cobertos de vegetação, ele contou-me a história da casa. Pertenceu a uma família nobre e esteve vazia durante décadas. Agora estava à venda.
“Precisa de muitas obras“, disse-me. Mas a estrutura é sólida e o potencial... é imenso e, além disso, o terreno também é edificável.“
Tinha razão. As divisões, embora empoeiradas, conservavam pormenores originais: chão de granito, tectos com frescos, grades de ferro forjado. O jardim era um tesouro esquecido, com árvores centenárias e o cheiro a maresia a poucos passos de distância, e aqueles dois edifícios semi-arruinados nas traseiras da villa, quantas coisas podiam ser feitas.
Pensei imediatamente nas possibilidades: um boutique hotel, apartamentos de luxo, um resort difuso, um local para retiros criativos ou casamentos rodeado de vegetação, com a praia a menos de cinco minutos a pé. Siderno é estratégico: ligações convenientes, turismo em crescimento, clima ameno durante todo o ano.
Ao subir ao terceiro andar, cheguei à frente da pequena varanda. Parei. O vento mal movia as cortinas poeirentas. Olhei para o horizonte e fechei os olhos. Quase conseguia ouvir aquela voz ténue a entoar uma melodia esquecida.
Talvez não tenha sido por acaso que aquele colar veio ter comigo.
E talvez estas férias não fossem apenas para me relaxar...

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